
*Por: João de Jesus | Imagem Ilustrativa: Stock Snap/Pixabay
A decisão do governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, de suspender o aplicativo CBP One trouxe profundas e amplas consequências para a crise migratória na fronteira com o México. Essa ferramenta, criada durante o governo de Joe Biden em 2023, desempenhava um papel crucial ao possibilitar que migrantes organizassem entrevistas de asilo de maneira ágil e segura.
Sua desativação repentina [pelo novo governo americano] não só deixou milhares de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, mas também desestabilizou as expectativas de um processo migratório minimamente ordenado, interrompendo sonhos e colocando em risco a vida de famílias inteiras.
Cancelamento de entrevistas e o impacto nos migrantes
O cancelamento das entrevistas de asilo afetou migrantes de diferentes nacionalidades, muitos dos quais já enfrentavam desafios severos para alcançar a fronteira. A decisão agravou a precariedade das condições em que vivem, com muitos abrigos fronteiriços superlotados e sem recursos básicos. Relatos de notificações impessoais informando que as entrevistas não seriam mais válidas geraram confusão e desespero. Em locais como Tijuana, cenas de migrantes chorando e tentando entender o que fazer a seguir exemplificam o impacto emocional e psicológico dessa medida.
Além disso, a suspensão do CBP One expôs as lacunas na coordenação entre os governos locais, estaduais e federais na gestão da crise migratória. O aumento do número de pessoas em situação de rua, combinado com a falta de infraestrutura adequada, colocou ainda mais pressão nas comunidades mexicanas próximas à fronteira, que já lidavam com uma sobrecarga de migrantes.
O retorno da política “Remain in Mexico” e seus efeitos
A suspensão do aplicativo foi acompanhada pela reinstauração da política “Remain in Mexico“, que exige que solicitantes de asilo aguardem no território mexicano enquanto seus pedidos são processados pelos EUA. Essa política, amplamente criticada, coloca migrantes em risco constante de violência, tráfico humano e exploração, além de expô-los a condições sanitárias e habitacionais degradantes. Relatórios de organizações humanitárias apontam para um aumento significativo nos casos de extorsão e abusos físicos sofridos por migrantes em áreas fronteiriças.
Enquanto isso, o sistema judicial dos EUA, sobrecarregado com o número crescente de solicitações de asilo, enfrenta dificuldades para atender às demandas de forma eficiente, o que prolonga ainda mais o tempo de espera dos migrantes e aprofunda sua insegurança.
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A Preocupação com os Direitos Humanos
Decisões como a suspensão do CBP One e o retorno da política “Remain in Mexico” suscitaram críticas de organizações internacionais, que destacam a violação de tratados como a Convenção de Genebra de 1951, que assegura o direito de solicitar asilo. Especialistas argumentam que essas políticas ignoram a dignidade humana e priorizam a contenção de fluxos migratórios em detrimento da proteção de indivíduos vulneráveis.
O advogado Dr. João Valença, do escritório VLV Advogados, enfatiza que tais políticas representam um grave retrocesso nos compromissos globais assumidos pelos Estados Unidos e criam precedentes perigosos para a gestão de crises humanitárias. Ele alerta que a falta de previsibilidade e transparência no tratamento dos migrantes compromete a segurança jurídica dos solicitantes de asilo, deixando-os à mercê de decisões arbitrárias.
O Papel do México e os Desafios Locais: a presidente do México, Claudia Sheinbaum, tem criticado publicamente o retorno da política “Remain in Mexico”, destacando que ela sobrecarrega o país e coloca migrantes em situações desumanas. Apesar das críticas, o México tem enfrentado dificuldades para implementar medidas que mitiguem a crise. Em cidades fronteiriças como Ciudad Juarez e Matamoros, a infraestrutura disponível é insuficiente para acomodar o número crescente de migrantes. Abrigos estão lotados, e recursos como água potável, alimentação e atendimento médico são limitados, aumentando ainda mais a tensão social na região.
Soluções necessárias para a crise migratória
A crise migratória na fronteira EUA-México exige uma abordagem colaborativa que vá além de políticas restritivas e unilaterais. A criação de um sistema coordenado de apoio humanitário, envolvendo governos locais, nacionais e organizações internacionais, é fundamental para garantir que os direitos dos migrantes sejam respeitados.
A implementação de programas de reassentamento mais eficientes, a ampliação de parcerias entre Estados Unidos e México e a busca de soluções diplomáticas para as causas da migração nos países de origem são alguns dos passos necessários para enfrentar o problema de maneira duradoura.
A suspensão do CBP One e a reativação de políticas migratórias como o “Remain in Mexico” agravaram uma crise humanitária já severa, colocando milhares de migrantes em situações de extrema vulnerabilidade. Embora os desafios sejam complexos, é urgente que governos e instituições internacionais se comprometam a desenvolver políticas migratórias que combinem segurança e humanidade. O respeito à dignidade humana deve estar no centro das soluções para garantir que aqueles que buscam refúgio tenham acesso a um futuro digno e protegido.
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*João de Jesus, é radialista e assessor de imprensa, além de jornalista, recém-graduado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Siga-o nas redes sociais: @portaljesusmaccomunicao
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