Pajubá Àse

Aniversário de Salvador, há o que comemorar?

*Por: Ìyá Márcia d’Ọ̀gún

Hoje, 29 de março de 2023, a cidade mais preta fora da África, completa 474 anos, e a programação de celebrações está maravilhosa.

Uma agenda celebrativa extensa, com shows, exposições em museus, palestras em universidades, etc.

Mas uma cidade tão preta tem seu perfil marcado dos traços dessa Herança Ancestral, e quando falo do Legado Africano, não me refiro apenas as comidas, danças, músicas e vestuário, incluo a religião também.

As Religiões de Matriz Africana muito contribuíram, contribuem e continuarão contribuindo para as construções culturais e políticas da nossa cidade, do nosso estado e do nosso país, por isso é necessário refletirmos sobre de que forma nosso povo tem sido tratado nessa conjuntura.

No ano passado nessa mesma época do ano, junto com aos festejos de aniversário dessa metrópole, que foi a primeira capital do país, estávamos mobilizados lutando em defesa das Dunas do Abaeté, contra um projeto de exclusão histórica do nome desse local, oriundo da Casa Legislativa Municipal, que sustentava um projeto de lei da bancada cristã fundamentalista…muito triste e decepcionante, porque apesar de tantas lutas, as obras continuam, desrespeitando inclusive o espaço que é uma APA ( Área de Proteção Ambiental)!

Esse ano, o cenário se repete. Dessa vez os desrespeitos são contra o primeiro Terreiro de Candomblé do país, o Ìlẹ̀ Àṣẹ Ìyá Nasọ̀ Ọ́ká, Terreiro da Casa Branca.

Uma invasão imobiliária nos arredores do Terreiro, coloca em risco os espaços sagrados da Casa Branca, bem como o trânsito e a vida dos filhos dessa comunidade religiosa.

Apesar de toda a mobilização de órgãos como o Ministério Público, a obra avança desrespeitosamente e nós precisamos cobrar das gestões públicas, tanto de esfera municipal e estadual, mas também de esfera federal, pois o Terreiro é um Patrimônio Histórico do Brasil há mais de trinta anos e esse ato é assinado pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Exigimos das autoridades e dos órgãos públicos de decisão, uma resolução favorável a esse Solo Sagrado, em nome de Ọ̀lódùmarè, Nossos Ancestrais e Nossos Ọ̀riṣás 🙏🏾

Que nós possamos celebrar SEMPRE, mas com RESPEITO e RESPONSABILIDADE. Viva a nossa cidade, viva ao Nosso Sagrado, viva ao Nosso Legado Ancestral.

Sigamos lutando com FÉ, mantendo a ESPERANÇA!

——–

*Ìyá Márcia d’Ọ̀gún é Iyalorixá do Ìlẹ̀ Àṣẹ Ẹwà Ọ̀lódùmarè, um Terreiro de Tradição Ijexá, em Lauro de Freitas; Doutora Honoris Causa pela Faculdade Formação Brasileira e Internacional de Capelania e Ordem de Capelães do Brasil; Coordenadora da Renafro (Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – Núcleo Lauro de Freitas); Membro da Renadir (Rede Nacional da Diversidade Religiosa e do Comitê InterReligioso da Bahia); Presidenta do Conselho Municipal de Política Cultural de Salvador; além de professora aposentada.

  • Os textos assinados, são de responsabilidade de seus autores.

Um Comentário

  1. Bons Dias!

    Excelente comentário com a PUJANÇA de quem tem Compromisso com as Nossas Causas, todas demandadas por responsabilidades e irresponsabilidades do Estado Brasileiro.

    PARABENS NOBRE ÌYÁ

    PARA POVO PRETO NEGRO NUBIO

    PARABÉNS À NOSSA CIDADE DE SAO SALVADOR

    LARODÉGUNHÊ

    AGUAS…

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