Barragem de Pedra do Cavalo, Recôncavo Baiano: comportas abertas

*Por: Jânio Roque
O Rio Paraguaçu nasce na Chapada Diamantina, região central da Bahia, e atravessa uma área de caatinga na qual a relativa planura é quebrada com a presença destoante dos inselbergues (morros de pedras), e de lá segue para o Recôncavo Baiano, onde o clima é predominantemente tropical sub-úmido. Depois desse trecho (área urbana da cidade de São Félix que bordeja o canal fluvial), o rio vai em direção a Baía de Iguape e de lá desemboca na Baía de Todos os Santos, adentrando ambientes com vegetação pré-litorânea e litorânea, a exemplo de resquícios da mata atlântica.
A edificação da barragem de Pedra do Cavalo, concluída em meados anos 1980, promoveu o represamento do Rio Paraguaçu, formando um expressivo lago artificial. Dentre os principais objetivos da construção do barramento em tela, cita-se: impedir as cheias periódicas que afetavam as cidades histórias de Cachoeira e São Félix, a jusante; abastecimento de água através de macrossistemas de adução e geração de energia de fonte hidrelétrica.
O Rio Jacuípe, que passa nas imediações urbanas/periurbanas da cidade de Feira de Santana, importante afluente do Paraguaçu, é um tributário que traz uma expressiva contribuição hídrica para avolumar ainda mais o rio principal em um trecho a montante da crista da barragem. Devido a elevada crista da barragem e ao arranjo geomorfológico dessa área do Recôncavo, o lago formado é expressivo e profundo, submergindo assim a antiga barragem e Usina Hidrelétrica de Bananeiras, em meados dos 1980.
Através dos sistemas de captação e de um sistema adutor, distribui-se água para o Recôncavo, Região Metropolitana de Salvador, Feira de Santana e imediações. Cerca de 60% da água que abastece Salvador, a mais populosa cidade do Nordeste, é captada no lago formado pelo represamento do Paraguaçu, em Pedra do Cavalo.

Com as comportas da barragem de Pedra do Cavalo abertas, amplia-se a capacidade de transporte do rio em uma área que sofreu impactos devido ao barramento, uma vez que a barragem diminui a força do rio o que contribui para o aumento dos efeitos da maré, que saliniza ecossistemas cuja dinâmica era tipicamente fluviomarítima; ou seja, o barramento promove um desequilíbrio ambiental, prejudicando assim práticas pesqueiras de coletivos sociais consolidados territorialmente em uma dimensão transgeracional.
Apesar dos impactos citados, as barragens para produção de energia hidrelétrica, do ponto de vista ambiental, são consideradas opções relevantes quando comparada com outras fontes altamente poluidoras, como as termelétricas. No ano de 2013, lutamos duramente contra a implantação de termelétricas no Recôncavo baiano; um ativismo socioambiental exitoso.
Lamenta-se a desativação da navegação fluviomarítima nesse trecho do baixo curso do rio Paraguaçu, no início da década de 1970. Cachoeira e São Félix, situadas nesse trecho em tela, são duas cidades reconhecidas nacionalmente pela força e fulgor do seu patrimônio cultural material (conjunto arquitetônico) e imaterial (manifestações culturais e festivas diversas).
*Janio Roque Barros de Castro é Graduado em Geografia pela UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana); Mestre em Geografia e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Professor Titular da UNEB (Universidade do Estado da Bahia).
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