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Você conhece Henriette von Aigentler?

Meu nome é Rogelma, sou uma mulher branca nascida no Cariri cearense. Estudei na capital. Hoje, tenho emprego e uma profissão. Sou física. Trilhei um caminho que foi aberto por tantas mulheres cientistas, algumas conhecidas e muitas que ficaram pelo caminho, como Henriette von Aingentler. Ao fazermos uma rápida pesquisa na internet sobre quem foi Henriette von Aigentler, facilmente encontramos: “esposa de Ludwig Boltzmann”.

Cientistas de todo o mundo conhecem Ludwig Eduard Boltzmann, um físico austríaco muito famoso por suas contribuições na área de física estatística, com a sua descrição estatística da natureza, sendo considerado um dos fundadores desta área. Por outro lado, pouco se sabe sobre a austríaca Henriette von Aigentler, e o que se sabe, está atrelado à vida de Boltzmann. Aos 25 anos de idade, em 1869, Boltzmann já era professor titular de física matemática na Universidade de Graz, cargo no qual permaneceu até 1873, enquanto Henriette lutava para ser professora de física e matemática, em uma época em que as mulheres não tinham permissão para estudar nas universidades austríacas.

Henriette foi a primeira mulher a cursar licenciatura em Física na Universidade de Graz. Fez história. Além disso, ela queria mais. Tentou ministrar palestras de forma não oficial na Universidade de Graz, mas foi impedida. Cansada de tanto pedir autorização e de ser rejeitada pela universidade, desistiu. Em 1874, Henriette passou em uma prova que lhe permitiu ser professora do ensino médio. Em meados de 1876, Henriette e Boltzmann casaram-se.

O casal teve três filhas e um filho. Henriette interessava-se pelo trabalho de Boltzmann e o mesmo gostava de ter uma esposa que apoiava o seu trabalho de forma incondicional. Dizia que esse era o papel de uma verdadeira esposa. Ele achava que o amor só poderia ser eterno com uma parceira que lutasse ao seu lado. E assim Henriette, estava. Como muitas mulheres estão hoje, em 2024, por vezes, seguindo os maridos em seus propósitos de vida e deixando os seus esquecidos.

Eles viveram por mais de 10 anos em Graz. A harmonia no casamento e na vida familiar proporcionou a Boltzmann tempo livre e tranquilidade para desenvolver suas teorias na física. Neste período, Boltzmann desenvolveu a sua famosa descrição estatística da entropia, enquanto Henriette ficou resignada aos cuidados da casa e dos filhos. Estudos recentes mostram que o nascimento de um filho impacta a vida da mulher cientista em número de publicações de artigos científicos, o que geralmente não ocorre com o homem cientista quando torna-se pai. Hoje, graças à luta de mulheres que fazem ciência, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito da concessão de bolsas de produtividade em pesquisa científica, em reconhecimento a maternidade, dobrou o período de avaliação do número de publicações de artigos de autoria de cientistas mães.

Aqui vale a reflexão: será mesmo que temos poucas mulheres que fizeram história nas ciências exatas, ou simplesmente, essas mulheres foram esquecidas? Ou levadas pelo que chamam de “amor incondicional” ao marido e à família? Afinal, cientistas mulheres carregam o estereótipo de serem pessoas frias. Dizem que é uma atividade para as solteiras, sobra a fama de mulher mal-amada. Enfim, uma falácia.

Em 1880, Boltzmann foi nomeado para a cátedra de física teórica da Universidade de Munique na Alemanha. Em 1885 tornou-se membro da Academia Imperial Austríaca de Ciências e em 1887, tornou-se presidente da Universidade de Graz. Boltzmann foi eleito membro da Real Academia Sueca de Ciências em 1888 e Membro Estrangeiro da Royal Society em 1899. Ufa! Até cansei de escrever sobre ele. Muita coisa, não é mesmo? E Henriette, lembra dela? Qual homenagem recebeu? Sequer temos informações sobre a sua vida, de fato, sobre seu protagonismo, sendo, portanto, apagada da história da ciência, levada pela romantização da anulação pessoal, como tantas outras mulheres.

Referência: John Blackmore, Ludwig Boltzmann: his later life and philosophy, Springer, 1995.

  • Referência foto do topo: Joaquín Sánchez Guillén, L.E. Boltzmann. El cientifico que se adelanto a su tiempo, el hombre que lo vivió intensamente, Prensas Universitarias de Zaragoza, 2009.

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**Rogelma Maria da Silva Ferreira, é Doutora em Física e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; membro da comissão de Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão da Sociedade Brasileira de Física e participante das ações do Coletivo de Mulheres Jacinta Passos. Siga: @resistenciafeministacda/

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